As Irmandinhas
Na vanguarda da causa galega e feminista
O papel das mulheres no seio das Irmandades da Fala tem sido invisibilizado historicamente, eclipsado polas figuras masculinas que ocupavam a maior parte dos espaços e, portanto, do capital simbólico atribuído a este movimento social, cultural e político soberanista.
No entanto, graças ao trabalho de historiadoras como Aurora Marco, com a publicaçom do livro Irmandiñas (Laiovento, 2020) e do Diccionario de Mulleres Galegas (A Nosa Terra, 2007), ao compromisso de entidades sociais como a Agrupaçom Cultural Alexandre Bóveda, através do projeto A Corunha das mulheres, ao Álbum de mulleres do Conselho da Cultura Galega e à obra de Carlos Pereira Martínez e Ana Romero Masiá: O orballo da igualdade. Asociacionismo feminino progresista na cidade da Coruña (Baía, 2005), podemos achegar-nos ao importante contributo das irmandinhas na defesa da língua galega, no cultivo das nossas artes, na luita por umha sociedade igualitária e na vindicaçom da Galiza como sujeito histórico e político.
Micaela Chao Macinheiras
Na reuniom fundacional das Irmandades, decorrida no dia 18 de maio de 1916 no local da Academia Galega, encontramos umha única mulher assistente: Micaela Chao Macinheira, que ademais será a primeira que fijo efectiva a sua filizaçom às Irmandades.
Um ano depois, no 20 de abril de 1917, registrou-se em A Nosa Terra umha colecta entre mulheres para financiar a fabricaçom dumha bandeira galega. A listagem que amadrinha o projeto começa polo nome da própria Micaela, junto às suas irmás Tereixa e Carme, Clementina Ponte, Eudosia Álvares, Maria Luísa Cabanilhas, Maria Miramontes, Sofia Domingues, Luísa Souto e Elvira Bao, entre outras. Mençom especial merece o contributo de Maria Vilares, em qualidade de presidenta das cigarreiras da Real Fábrica de Tabacos da Palhoça, com 73 pesetas.
Micaela Chao também impulsionará como conselheira primeira a secçom feminina da Irmandade herculina que, segundo o boletim A Nosa Terra, publicado no 25 de dezembro de 1918, chega a ter mais de duzentas mulheres organizadas. Umha secçom que desenvolverá um trabalho fulcral no âmbito da propaganda política, nas demandas dumha vida digna para a mulher galega e na criaçom dumha rede de apoio para as compatriotas emigradas através dos Centros Galegos de América.
A igualdade de direitos
I Asambleia Nazonalista de Lugo
Nos dias 17 e 18 de novembro de 1918 terá lugar a “I Asambleia Nazonalista de Lugo” na qual ser reclamará, graças ao trabalho organizativo prévio das irmás da fala, a igualdade de direitos para as mulheres em relaçom aos homens.
O papel comprometido, solidário e vanguardista destas mulheres pode certificar-se no profuso número de iniciativas socias, políticas e culturais que dirigírom.
Assim, podemos constatar o seu envolvimento em projetos como a criaçom da Escola de Ensino Galego, graças ao apoio de Elvira Bao –a que ia ser docente da escola feminina- e da editora e costureira Maria Miramontes; no coros e quadros de declamaçom, com umha presença notável de mulheres no coro de Cántigas da Terra; no teatro, com a fundaçom do Conservatório nacional de arte galega e a implicaçom de Micaela Chao e das irmás Meléndrez Bosch e Maria Luisa Durám Marquina e, entre outras iniciativas, na Agrupaçom Republicana feminina, com o importante labor de Amparo Lopes Jean, que também será a primeira mulher em militar no Partido Galeguista.
Vida e obra de Elvira Bao e Maria Miramontes
Irmás na Fala
Para cuidar o seu legado, a Academia Galega e Nós Televisión produzírom a série “Irmás na Fala”.
No cápitulo II indaga-se na vida e obra de Elvira Bao e Maria Miramontes, as duas mulheres que mais trabalhárom polo florescimento das Escola de Ensino Galego.
Para conectar essa experiência histórica com o presente da incitativa educativa popular, a polifacetada Rosalia Fernandes Rial visita a Escola de Ensino Galego Semente da Corunha.
Biografia de Elvira Bao, por A Corunha das Mulheres
Elvira Bao Maceiras
Nada na Corunha em 1890 e finada na mesma cidade no 26 de abril de 1971 foi umha docente galega, militante do nacionalismo.
Aos dezasseis anos obtivo o diploma de professora de ensino básico na Escola Normal da Corunha. Desejando ir para a universidade, tivo o apoio da família para se mudar para Madrid para estudar pedagogia, mas quando os seus pais descobriram que na casa dalguns conhecidos, onde ela ia morar, havia também um jovem da sua idade, fijo com que lhe negassem a permissom para frequentar a universidade. Desenvolveu a sua actividade docente na Escola de Redes e nas Colónias Escolares do Sanatório Marítimo de Oça de 1920 a 1936, ano em que foi nomeada directora.
No campo político, foi umha militante ativa do galeguismo e do republicanismo. Promotora das Irmandades da Fala da Corunha, sendo secretária da sua junta diretiva em 1918 e também colaboradora no seu quadro de Declamaçom como atriz.
Elvira Bao Maceiras
Família de Elvira Bao Maceiras.
Placa do cárcere de Elvira Bao Maceiras.
Quando em 1923 as Irmandades da Fala decidírom criar as Escolas de Ensino Galego pensárom em Ângelo Casal para a escola dos meninhos e em Elvira Bao para a escola das meninhas, no entanto segundo Elvira Varela Bao –a sua filha- seria a doença da mae de Elvira Bao e da necessidade da sua atençom o que impede a abertura desta secçom da escola. A historiadora Sabela Rivas também tem indicado a possível falta de matrícula de nenas devido aos preconceitos patriarcais da época.
Elvira Bao também foi membro da Agrupaçom Republicana Feminina da Corunha desde a sua constituiçom, em 1933, e foi presidenta da primeira Junta directiva, composta por outras republicanas proeminentes como Amparo López Jean.
O seu nome é destacado no semanário A Nosa Terra como interveniente em comícios do Partido Galeguista. Juntamente com o marido Bernardino Varela Docampo editárom o primeiro livro de contos pra nenos, com texto de Vicente Risco e ilustraçons de Álvaro Cebreiro.
Fruto do seu activismo político, após o golpe de Estado de 1936, passou alguns meses no cárcere e foi definitivamente afastada do ensino estatal.
Em 1945 abriu umha escola particular na sua casa, no bairro de Sam Roque de Fora, onde praticou um ensino humanístico, em língua galega, coeducativo e acessível para as classes populares. Ramón Isasi, aluno seu, assinala sobre a mestra:”explicou-nos que era o respeito, a solidariedade, a tolerância…”
Biografia de Maria Miramontes, por A Corunha das Mulheres
Maria Miramontes
Maria das Dores Miramontes Matos nasceu em Santa Maria de Guísamo (Bergondo-Corunha) em 1895. Começou a trabalhar aos 11 anos num obradoiro de costura na Corunha, na cidade onde o pensamento nacionalista e galeguista germolou em lugares como a Cova Céltica.
Maria era umha moça esperta, inteligente e aberta que vai formar-se em todo este mundo, frequentando os centros republicanos na companhia de Elvira Bao, Pilar Castro, Amparo Lopes Jean e, sendo muito nova, será membro das Irmandades da Fala.
Maria Miramontes já aparece nas listagens da secçom feminina em 1918. Certamente, nestes ambientes republicanos, progressistas e galeguistas conheceu o homem com quem partilharia a vida, o pensamento e a militância e com quem casaria em 1920, Ângelo Casal. Já juntos, abrem umha lojinha de tecidos no número 9 da Rua Panadeiras.O ganho cativo desta atividade fai com que Maria também se dedique à profissom de costureira, enquanto Ângelo completa a economia com aulas de francês e traduçons.
Maria Miramontes
O casal nom só mantém a sua vida em comum como também apoia financeiramente múltiplas iniciativas do nacionalismo e da cultura galega: as Irmandades da Fala, a editora Lar, depois a editora Nós e a Escola de Ensino Galego. Em 1931 decidem mudar-se para Compostela para ficarem mais próximos do Seminário de Estudos Galegos, já que a Editora Nós publicava todas as obras desta instituiçom.
Quando foi fundado o Partido Galeguista, em Dezembro de 1931, Maria, juntamente com Genoveva Casal e um grupo, nom muito numeroso, de mulheres trabalham para convencer o povo galego, e especialmente as mulheres, da necessidade que a Galiza tem de se dotar dumha força política própria.
Maria participará ativamente na campanha de apoio ao Estatuto, que se vai referendar no dia 26 de junho de 1936. No 15 de julho, Ângelo Casal entregou o Estatuto da Galiza, juntamente com toda a Comissom nomeada para esta funçom, ao Presidente das Cortes e ao Presidente da República e nessa foto histórica só há umha mulher, Maria Miramontes.
O 18 de julho ocorre o levante militar franquista. No dia 20 de julho, Ângelo Casal, recém-chegado de Madrid, assume o cargo de alcaide e torna-se chefe do Comitê Republicano de Santiago, mas poucos dias depois é preso e levado ao cárcere de Compostela. Será brutalmente assassinado numha gabia em Cacheiras na noite de 18 para 19 de agosto.
Em novembro de 1936, Maria embarca via Lisboa com destino a Buenos Aires, para onde emigrara parte da sua família. Ao chegar lá volta a ser costureira e o pouco que sabemos sobre ela é por causa da família Seoane, Maruxa e Luís… O silêncio e o esquecimento figérom de Maria Miramontes umha mulher injustamente invisibilizada.
Graças ao projeto A Corunha das mulheres, disponibilizamos as biografias destas duas referentes do pensamento republicano, nacionalista e feminista galego.